Tercio Sarli
Há, entre nós, certa tendência de nos preocuparmos erradamente com respeito ao preparo para a volta de Jesus. Muitos se alarmam frequentemente com um ou outro acontecimento que tem lugar no mundo, ou com alguma propalada ameaça de leis dominicais, ou se o atual papa é o último, se a perseguição está iminente, etc. E quando aparece, então, algum novo pregador, ou pregadora, afirmando ter nova luz sobre profecias, ou novas interpretações sobre os sinais do fim do mundo, há sempre um grupo numeroso de irmãos que acorrem pressurosos para ouvir esses arautos de coisas sensacionais. Não que necessariamente esses pregadores sejam desleais aos ensinos da igreja. Tanto eles, como os que se apressam em ouvi-los, são, em geral, cristãos sinceros, mas que desenvolvem e apregoam certas interpretações próprias a respeito da vida cristã, das profecias, e do que consiste o preparo para a volta de Jesus. Geralmente reúnem textos do Espírito de Profecia e da Bíblia, dando-lhes interpretações que lhes parecem corretas, e acabam crendo firmemente em suas pretensas descobertas. E, como resultado, a religião de muitos, com base na ansiedade e no medo, vai-se tornando fonte de incertezas e preocupações. E então começam a se perguntar: “E se Jesus vier hoje, estarei salvo? Terei alcançado pleno perdão de minhas faltas?” Outros passam a fazer planos de ir morar em alguma localidade distante, pretensamente fora do alcance da perseguição; e outros, ainda, fazem do perfeccionismo, do ativismo, do naturismo, e de outros ismos mais, práticas meritórias ligadas à salvação, o que acaba caindo na crença da salvação pelas obras.
Tempos especiais de provas virão, um dia, em cumprimento profético, mas em nada nos ajudará o anteciparmos esses tempos por desnecessárias preocupações, conforme adverte a própria Sra. White no livro Mensagens Escolhidas, volume 2, p.13.
Sem dúvida, o anseio por estar preparado para a volta de Jesus é um sentimento justo do cristão fiel, mas, em que consistiria esse preparo? Seria em uma religião cheia de inquietações e temores? Eis uma declaração preciosa de Ellen White sobre essa questão: “A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimento, mas deve existir uma constante, serena confiança. Vossa esperança não está em vós mesmos; está em Cristo.” – Caminho a Cristo, p. 60.
E no mesmo capítulo ela escreve: “Não devemos fazer de nós o centro, nutrindo ansiedade e temor quanto à nossa salvação. Tudo isto desvia a alma da Fonte de nosso poder ... Ponde de parte a dúvida; despedi vossos temores.” – Ibid., p. 61. A promessa de Jesus é: “Vinde a Mim ... e achareis descanso para a vossa alma.” – Mateus 11:28 e 29.
Mas alguém poderá perguntar: E a obediência aos mandamentos, as boas obras, a participação na igreja, a vitória sobre o pecado, o serviço cristão, não são fatores importantes na vida cristã? Claro que sim. Mas esses são frutos naturais de uma vida de comunhão com Deus, e não degraus para a salvação. Se já aceitamos verdadeiramente a Jesus como nosso Salvador e vivemos em comunhão com Ele, não haverá mais o que temer, nem quanto ao presente, nem quanto ao futuro. NEle, e com Ele, estaremos seguros. Portanto, se Jesus vier hoje, ou daqui a um ano, ou após a nossa morte, não importa. Nossa esperança está firmada nEle, e podemos, pois, dizer como o fez Paulo: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda.” – 2 Timóteo 4:8.
E, finalmente, se tivermos de dar ênfase especial a um ponto mais importante para fortalecimento da vida cristã, e que nos confirme a certeza da salvação, esse ponto é o tempo diário dedicado à comunhão com Deus, pela leitura devocional da Bíblia e pela oração particular, a qual, no dizer de Ellen White, “é a alma da religião”. Se você ainda não tem essa prática devocional diária, experimente instituí-la em sua vida. Quinze minutos, meia hora, o tempo que você puder, e no horário que lhe for mais favorável. Você ficará surpreso com os resultados.
Na parábola da videira, Jesus nos ensina o segredo da vida cristã vitoriosa: “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. ... Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer.” – João 15: 4 e 5.
Com efeito, o ramo que estiver ligado à Videira nunca secará, nunca será lançado fora, nunca se perderá. Crê você nisso? É Jesus quem nos dá essa certeza!
Com razão escreveu Kent A. Hansen, consagrado autor adventista dos Estados Unidos: “No mais alto sentido, a vida eterna é, essencialmente, questão de relacionamento com Deus, e não de atividades. Jesus declarou: A vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (João 17:3).” – RA, maio/2000.
E anotem mais este importante pensamento do Pastor Rubem Scheffel: “Cristianismo nada mais é do que convivência com Deus. O restante – boas obras, bom comportamento, testemunho – é consequência.” – Meditações Diárias, 2009, p. 151.
Eis, pois, o que é a vida cristã genuína. É permanência em Cristo. É estar ligado a Cristo pela comunhão contínua. As demais coisas, segundo afirmou Jesus, nos serão acrescentadas. Esse é o verdadeiro preparo para a volta de Jesus. Sem temores vãos. Sem extremismos. Sem sensacionalismos. Em “constante e serena confiança”. E, então, poderemos cantar de todo o coração o belo hino: “Que segurança! Sou de Jesus!”